Quinta feira, 02/04
Liguei ontem pra minha irmã.
Ela mora só e nesse isolamento tem se sentido muito sozinha.
Olhando por esse lado as saídas para as sessões de hemodiálise até parecem uma coisa boa.
Na verdade são, mesmo, é por causa dessas sessões que ela continua viva.
Digo no sentido de sair um pouco, ver gente, passar algumas horas fora de casa.
É claro que há riscos mas não fazer a hemodiálise a mataria em muito menos tempo que um corona agressivo seria capaz, então não há alternativa.
E já que é preciso sair por que não ficar feliz com isso?
Mas ela também me deu uma notícia preocupante.
Mais uma fofoca, talvez.
Disse que minha mãe tem saído pra caminhar todos os dias, com meu padrasto.
As duas moram muito próximas e minha mãe tem passado por lá nas caminhadas.
E também na casa de uma tia, irmã da minha mãe, que também mora por ali.
Sem máscara nem nada!
Falei com ela, que confirmou.
Disse que estava com a máscara no bolso caso precisasse e que não pode apenas ficar em casa enquanto as duas estão ali, morando sozinhas (cada uma na sua casa), e não passar pra dar um "oi".
Sabe aquela sensação de envelhecer?
Hoje eu tive uma. Forte.
Nunca tinha dado uma bronca na minha mãe.
Ela começou pensando que era brincadeira mas acho que ficou até um tanto surpresa quando descobriu que não era.
Não fui grosseiro ou falei alto, claro que não, mas fui firme e sério, como tinha que ser.
Já fazem algumas décadas desde que meus avós fizeram isso com ela pela última vez.
É uma sensação estranha ter aquele estalo e perceber que a vida está "virando".
Eu sou o filho e sempre fui mais cuidado do que cuidei, mas as coisas estão se invertendo e agora sou eu que tenho de me preocupar com os velhinhos.
Meu pai, pelo menos, resolveu ir pra sua casinha "no mato", à beira do lago.
Ali não existe aglomeração e ainda fica perto da cidade, em caso de necessidade
Eu fico mais tranquilo assim.
A nota curiosa fica por conta do jornal local.
Assim que terminei de "passar o pito" na minha mãe o jornal exibiu uma reportagem sobre as pessoas que não estão levando o isolamento a sério e se expondo a risco.
O entrevistado estava quase alterado e mostrou a quantidade de pessoas na rua, justamente onde ela costuma caminhar.
Ela disse que viu a reportagem, mas não gostou.
Parecia uma criança, contrariada.
Hoje foi anunciado um número triste e simbólico.
1.000.000 (um milhão!) de doentes no mundo.
Demoramos cerca de três meses para chegar a 500 mil doentes.
Levamos apenas mais uma semana pra outros 500 mil serem infectados.
Quantos serão até o final do mês?
Aqui tivemos outro dia com mais de mil infectados e quase 60 mortos.
Nossa curva ainda está acelerando e o pico está previsto para a última semana de abril mais ou menos.
Deus nos ajude.
No Brasil são 7.910 doentes 299 mortos
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